Linha Imaginária

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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Weather Report - Black Market

Capa do disco lançado em 1976/ (Divulgação)



O sexto álbum da Weather Report é um deleite para todos os fãs de música instrumental.

Gravado em dezembro de 1975, produzido pelo tecladista e arranjador Joe Zawinul e pelo saxofonista Wayne Shorter (ambos ex integrantes da banda de Miles Davis) este álbum foi lançado no ano seguinte (1976) pela Columbia Records.


Contra-capa / (Divulgação)

Além disso, foi o primeiro álbum da banda com a participação do incrível Jaco Pastorius no contrabaixo (para os já familiarizados dispensa-se qualquer apresentação). Além de Jaco estão também músicos como Alphonso Johnson (contrabaixo), Chester Thompson e Narada Michael Walden (bateria), Don Alias e Alejandro Acuña (congas e percussão).


O "incrível" contrabaixista Jaco Pastorius / (Divulgação)


Com faixas que perpassam pelo funk e por ritmos africanos, Black Market conduz o ouvinte a uma viagem de volta a década de 70, e é uma verdadeira aula de ritmo, arranjo, harmonia e improvisação.

A faixa-título "Black Market" - primeira do disco, começa com uma linha de baixo incrível e uma frase de sintetizador que originalmente começam em Bb (sí bemol) G (sol) e A (lá) como visto na figura abaixo:


Linha de baixo de Black Market - Joe Zawinul/ (Divulgação)


O uso de colcheias e semi-colcheias dão o tempero especial à esta composição de Joe Zawinul!

Cannon Ball - também composta por Zawinul - é um tributo ao saxofonista alto Julian CannonBall Adderley o qual Zawinul foi integrante de sua banda!

Nesta faixa também há uma pequena introdução, logo depois é possível perceber um movimento aonde a harmonia vai crescendo junto com os improvisos de saxofone de Wayne Shorter!

A faixa seguinte - Gibraltar - é a maior do disco. Tem uma introdução que nos conduz à uma viagem a bordo de um navio. Com seu saxofone soprano, Wayne Shorter acompanhado de Jaco ao baixo fazem com que o ouvinte sinta-se navegando por águas profundas. Ao final dessa introdução que no disco dura um pouco mais de 30 segundos surge um funk bem temperado com a percussão de Acuña.





A próxima faixa é Elegant People - maravilhosa composição de Wayne Shorter. Aqui o tom original é A (lá) e a harmonia dá total abertura para os improvisos de Shorter no sax tenor! Em Three Clowns Wayne Shorter usa um instrumento típico da época, o fantástico Lyricon Computone - uma espécie de saxofone elétrico, também utilizado por músicos como Bennie Maupin, Yousef Lateef, e Rahssan Roland Kirk. O timbre é incrível!!!!


Lyricon Computone - instrumento utilizado por Wayne Shorter no disco / (Divulgação)


As demais faixas do disco são obras-primas para ninguém botar defeito. Barbary Coast é um funk típico de Jaco Pastorius, linhas de baixo que casam perfeitamente com a harmonia e a percussão, além da linha melódica dançante, típica linguagem desse grande contrabaixista!





Herandnu vem pra fechar essa obra-prima! Composta por Alphonso Johnson esse tema começa com orquestrações maravilhosas e belas frases de Shorter ao sax tenor. Aqui também é possível perceber quebras de andamento entre tema e improvisação! Isso fica claro aos 1:16 da música quando Zawinul e Shorter passam a duelar com sintetizador e Lyricon respectivamente! O pedal wha-wha também é usado com maestria nessa faixa!

Para você leitor fica aqui mais uma bela obra-prima da era Fusion.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

BMW Jazz Festival começa dia 08 de junho no Via Funchal




A 2ª edição do BMW Jazz Festival a ser realizada este ano nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo contará com alguns dos grandes nomes da música instrumental mundial. O evento que começará por São Paulo no dia 08 de junho no Via Funchal http://www.viafunchal.com.br/ e se encerrará no Rio no dia 13 no Teatro Oi Casa Grande http://oicasagrande.oi.com.br/evento/bmw+jazz+festival/32.html receberá nove atrações: Chick Corea, Stanley Clarke & Lenny White (Return To Forever); Maceo Parker e convidados; Fred Wesley & Pee Wee Ellis; Charles Lloyd Quartet; The Clayton Brothers; Trombone Shorty & Orleans Avenue; Ambrose Akinmusire; Nintey Miles; Darcy James Argue’s Secret Society; e Toninho Ferragutti e Bebê Kramer.


O trio formado por Chick Corea, Stanley Clarke e Lenny White (integrantes da banda Return To Forever) será uma das principais atrações do festival  


Com patrocínio da BMW Serviços Financeiros – banco do grupo no Brasil, responsável pela oferta de produtos de financiamento e seguros aos clientes da marca – além das empresas Chubb e Columbia, o festival será conduzido pela produtora e cineasta Monique Gardenberg, da Dueto Produções, idealizadora também dos extintos Free Jazz e Tim Festival.
 “Para a BMW do Brasil é extremamente gratificante poder resgatar a cultura do Jazz e contribuir para o seu fortalecimento no país. Temos certeza de que esta segunda edição do festival será novamente um sucesso”, afirma Henning Dornbusch, diretor presidente do BMW Group Brasil.

Este ano porém, ocorrerá uma mudança em São Paulo em relação ao ano passado. Ao invés de ser realizado no Auditório do Ibirapuera, o festival se transfere para o Via Funchal,  que comporta mais de dois mil espectadores. Na capital paulista O BMW Jazz Festival ocorre no fim de semana de 08 a 10 de junho, e assim como em sua edição anterior contará com shows ao ar livre (Maceo Parker e The Clayton Brothers) no último dia do evento, no Parque do Ibirapuera.

“A mudança de local em São Paulo visa atender a grande demanda de público do ano passado, quando os ingressos se esgotaram em poucas horas, gerando muita frustração. Agora teremos à venda aproximadamente 2.200 ingressos por dia, contra 500 da última edição”, esclarece Monique.

 A produtora Monique Gardenberg, responsável pela produção do festival no Programa do Jô

Já no Rio de Janeiro, apesar de o ponto permanecer o mesmo, o Teatro Oi Casa Grande sediará três dias de evento, de 11 a 13 de junho (um a mais do que em 2011), e com seis atrações (Corea, Clarke & White; Maceo Parker e convidados Fred Wesley & Pee Wee Ellis; Charles Lloyd; Trombone Shorty & Orleans Avenue; Nintey Miles; Darcy James Argue’s Secret Society), no lugar de quatro.



O quarteto do saxofonista Charles Lloyd será outra grande atração do festival

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Airto Moreira - Natural Feelings



                                        Capa do album lançado em 1970 / (Divulgação) 

É muito comum o emprego da expressão “divisor de águas ”em resenhas, críticas e outros gêneros discursivos no mundo do jornalismo cultural.  No universo musical, em alguns casos a atribuição deste rótulo é discutível, afinal este processo implica na banalização do termo, que com o tempo foi perdendo sua força de expressão. Contudo, há trabalhos em que nem o mais exigente, questionador e subversivo ouvinte- aquele que em qualquer discussão musical com amigos sempre apela para as referências máximas do objeto em questão- consegue “contestar” o uso apropriado desse jargão. A obra “Natural Feelings” de Airto Moreira consegue se enquadrar perfeitamente nele.

Afinal um álbum que conta com a participação de um time composto por “amadores” do quilate de Sivuca- neste caso, pasmem, no violão, Ron Carter(até então integrante da banda de Miles Davis) no baixo,  Hermeto Pascoal (piano, Flauta, Orgão e Harpischord) e capiteaneado por Airto, um dos grandes compositores da musica instrumental brasileira, não poderia deixar de ser sinônimo de pioneirismo e genialidade ,não?

                                               Contra-capa do àlbum / (Divulgação)
 
Depois de integrar bandas como Sambalanço Trio-juntamente com César Camargo Mariano e Humberto Cláiber, Quarteto Novo e participar da gravação do álbum Bitches Brew de Miles Davis, Airto resolveu gravar este que seria uma espécie de “embrião” do que viria a ser seu futuro conjunto denominado Fingers. Em parceria com sua esposa, Flora Purim, que juntamente com ele “assina” os vocais, o álbum é um perfeito “amálgama” da música brasileira com experimentalismos vanguardistas resultando em uma mistura um tanto exótica e transgressora para a época.

                                    Airto e suas parafernálias percussivas / (Divulgação)
   
Logo de cara, este sincretismo se manifesta. Em Aluê, a primeira faixa do play, o balanço do baião “come solto”, sendo o substrato  rítmico perfeito para o complexo trabalho de cordas executados pelo mestre Sivuca. Em Xibaba, a bola da vez é o samba temperado  por fraseados de "bossa nova” e um show de improvisação de Hermeto com seu Fender Rhodes. Uma curiosidade são os estranhos nomes de algumas músicas. 

Xibaba e Liamba são denominações de ervas alucinógenas derivadas da Cannabis(talvez isto explique a inspiração de nossos amigos neste trabalho). Em Terror, os arranjos sofisticadíssimos do jazz moderno, que aliás são a tônica do álbum, ficam apenas como pano de fundo para o casamento insólito e genial das histriônicas flautas (que parecem reportar  um ritual xamânico andino) com a alucinada percussão de Airto-cortesia de quem entende muito do assunto. 

                       Airto exibindo seus dotes vocais no auge da forma / (Divulgação)


Outros destaques são Bebê - tema que também faz parte de  seu “debut”  (aqui no Brasil lançado com o título " A Música Livre de Hermeto Pascoal"), Andei- típica fusão dos sons das rodas de capoeira (com seus berimbaus atrevidos) com a suntuosidade do Harpischord, acompanhados pelos leves e descompromissados vocais de Flora, Tunnel-pelo inicio lisérgico que descamba quase  num ensaio de maracatu e a fantástica Frevo, que ao contrário do que sugere o próprio título, está longe de ser um mero pastiche desse ritmo e sim um bem aventurado tributo a esse magnânimo ritmo nordestino. 

                      Hermeto Pascoal e seu "look" folclórico / (Divulgação)


Natural Feelings é mais do que mera tentativa de fundir os  “distantes”, é uma daquelas maravilhosas provocações aos ortodoxos teóricos musicais de outrora  que defendiam a segregação infame entre o erudito e o popular, entre o global e o tupiniquim e que por tabela redesenhou os rumos do jazz e da World Music.






http://www.4shared.com/folder/cmdXySpe/natural_feelings.html